Você não é todo mundo (e nem deve ser)
Sabe aquela frase que toda criança e adolescente escuta dos pais com frequência “Você não é todo mundo”? Normalmente, ela vem como resposta ao pedido de fazer alguma coisa que todos os seus amigos vão fazer e é seguida por momentos de raiva, brigas e lágrimas.
Pois eu tenho uma coisa pra te dizer: os seus pais estiveram certos esse tempo todo! Você não é todo mundo, e nem deve ser. Todo adolescente passa pela fase de fazer parte de um grupo que pensa, age e se veste igual. Isso faz parte. Mas é depois de adultos que a gente se dá conta de que não precisa mais ser assim, que a opinião do outro não precisa ser igual a minha e tudo bem.
Lembrei dessa frase num momento em que eu buscava me reencontrar, entender de verdade quem eu sou, o que eu quero, como eu penso e como devo lidar com isso. E no meio dessa reflexão me dei conta de que o mundo anda bem pasteurizado e, ao mesmo tempo, dividido. As pessoas querem fazer as mesmas coisas, ter os mesmos carros, fazer as mesmas viagens, ter os mesmos cargos e, quando alguém se posiciona e diz: “não quero, isso não faz diferença pra mim, não penso dessa forma”, socorro!! A briga foi armada, as ofensas começam e as amizades terminam. Hoje anda difícil ser compreendido. Cada um acredita tanto nas suas posições que as do outro não merecem o mínimo de respeito. Seja sobre política, futebol e religião ou trabalho, estilo de cabelo e alimentação. Todo mundo tem opinião sobre tudo (e isso é ótimo!), mas ninguém sequer ouve a opinião do próximo quando é diferente da sua.
Eu, por exemplo, nunca tive o sonho de ser rica ou morar em uma mansão e ter carro importado. De chegar à presidência de uma empresa e liderar várias pessoas (me julguem!). E já ouvi muita coisa por isso. Desde “você é muito nova, não sabe nada” até “você não tem ambição na vida”. Por muito tempo eu acreditei nelas, achava que não ia ter futuro se não fosse assim.
Até que eu aprendi à duras penas que eu não preciso pensar como todo mundo e que ambição é muito diferente pra cada um. Eu aprendi que tenho que viver a minha verdade, mesmo que ela seja diferente de todo mundo, até da minha família, às vezes. Não tenho a menor intenção de fazer voto de pobreza, (longe disso!), mas a ideia de uma vida confortável e tranquila, na qual eu possa gastar mais dinheiro viajando do que juntando coisas, reunindo os amigos em casa ou no boteco e andando de bicicleta na beira da praia ao invés de travada no trânsito dentro do meu carro, me traz muito mais alegria e paz.
Respeito muito quem várias vezes anula sua felicidade pela necessidade de trabalhar onde for possível e ter dinheiro pra por comida em casa e pagar a escola dos filhos. Principalmente porque isso fez parte da cultura e forma de vida de muitas gerações anteriores à minha. Não é fácil não ter dinheiro no fim do mês pra pagar as contas, mas vejo que quando a gente se dedica ao que acredita, o universo conspira a nosso favor e as coisas acontecem.
Hoje, eu batalho por uma vida diferente pra mim, mantenho meus sonhos ainda que seja pra realizá-los em vários anos, busco mais qualidade do que quantidade, aquela felicidade diária ao invés de ser feliz só aos fins de semana e feriados. Uma vez meu pai me disse que eu sou uma das poucas pessoas que ainda acredita nos sonhos e vai atrás deles. Sou mesmo assim e nem sempre é fácil, mas não acredito que somos poucos, acredito que muitos sonhadores estão escondidos por aí vivendo uma vida automática e acreditando no que os outros dizem que é certo. E é contra isso que eu luto.
Será que é utopia? Talvez pra todo mundo. E daí? Eu não sou todo mundo!