Troquem a escola de princesas por uma escola de respeito
Eu sempre fui a princesinha da mamãe e do papai. Daquela que usa vestidinhos, lê contos de fadas, brinca de bonecas, é gentil com todo mundo. Claro, eu sou a única menina e a caçula, faz parte do imaginário dos pais. Eu fui ensinada como devia me portar à mesa, aprendi a cozinhar, ajudava mamãe na cozinha e na limpeza.
Isso tudo é sim, importante e faz parte do nosso dia-a-dia de adultos. Mas uma das diferenças entre ensinar isso em casa e criar uma escola de princesas é que por aqui, o meu irmão – menino e mais velho -, aprendeu as mesmas coisas e ajudou nas mesmas tarefas. Ser educado e ajudar em casa não era tarefa de menina, era tarefa de filhos.
Mas, acima disso tudo, meus pais me ensinaram com muito mais ênfase e dedicação a importância de ser independente, de ir atrás dos meus desejos, de estudar para conseguir bons trabalhos que me dessem crescimento profissional e condições de me sustentar sozinha, que não devo baixar a cabeça para ninguém, que o meu valor é igual ao de todas as pessoas.
Meus pais são casados há 34 anos, logo, o casamento, o relacionamento, o amor e a união sempre foram muito valorizados na nossa família. Ainda assim, eu nunca fui criada para ser “uma mulher para casar”, que só cuida da casa e dos filhos, deve obediência ao marido e não tem vida própria. Eu fui educada para ser uma boa pessoa, uma profissional de valor, uma amiga leal, para respeitar o próximo, para não depender de ninguém financeira ou emocionalmente, enfim, para ser livre e feliz! O problema não está em usar um vestido rosa, aprender a não colocar os cotovelos na mesa ou brincar de boneca. Eu fiz tudo isso. Mas também tinha roupas azuis e verdes, tomei bronca por não comer direito e brincava de beisebol e futebol com meu irmão no meio da sala. E posso dizer com todas as letras que tive uma infância extremamente feliz!
Provavelmente nessas tais “escolas de princesas”, eu seria um péssimo exemplo. Aos 29 anos não estou casada, não tenho filhos, morei sozinha em outra cidade, sou feminista, bebo, adoro sentar com os pés na cadeira, falo palavrão, tenho vários amigos homens, volto pra casa de madrugada e está pra nascer o homem que vai botar o dedo na minha cara e dizer que ele que manda. Ao mesmo tempo, adoro uma maquiagem, amo dançar, sou doida por um salto alto, quero ser mãe, leio poesia, sou uma romântica incorrigível e adoro refeições com a família e os amigos reunidos. O que me faz menos mulher de valor ou digna de respeito? Que características dizem que eu sou mais feminina ou menos?
Dizem por aí que as gerações atuais estão na perdição, que ninguém valoriza mais a família tradicional, que as mulheres não se dão valor. Pois, na verdade, eu acredito que hoje se valoriza muito mais tudo isso. Mais famílias se separam? Sim. Mas era melhor viver na hipocrisia de uma família feliz, enquanto o marido sai de casa pra trair a mulher e os filhos “que não se encaixam” são excluídos do convívio? A mulher se dava mais valor quando não tinha valor nenhum? Quando suas vontades não eram respeitadas e suas opiniões não serviam de nada? Desculpem os que pensam dessa forma, mas o que vocês não gostam é de ver às claras o que antes era feito escondido.
Parem de querer formar nossas meninas (e meninos também) de acordo com rótulos e modelos pré-definidos do que é certo ou errado. Ao invés de criar escolas de princesas, vamos criar escolas que incluam meninas e meninos para aprenderem humanidade, respeito, amor ao próximo, a lutar pelos seus sonhos sem pisar no amiguinho, a conviver com as diferenças. Continuem ensinando a comer de boca fechada, a não ser mal-educados, a sentar de pernas fechadas (os meninos também!), deem roupas rosas, verdes, amarelas, deixem brincar de boneca, de bola, de cozinha e de carrinho. Mas não esqueçam de ensinar também que em muitos momentos da vida isso tudo não é importante desde que eles sejam pessoas de caráter, seguras, independentes e, acima de tudo, amadas como são!