Ansiedade: Você não está sozinho
De repente alguma coisa acontece – seja uma ação ou um pensamento – e o gatilho é liberado na mente. A respiração começa a falhar e fica ofegante, o coração acelera que parece que vai ter um infarto, o corpo treme e sua, uma sensação de calor e frio ao mesmo tempo e na mente só pensamentos ruins de que nada vai dar certo, de que você vai morrer, e de que não é capaz de aguentar isso. Bem-vindo, você está tendo uma crise de ansiedade.
Digo bem-vindo, por você não está sozinho. Por mais que a sensação seja de que está sozinho no mundo e só você passa por isso, acredite, boa parte dos seus amigos e familiares têm ou vai ter uma crise dessas durante a vida.
A ansiedade e a depressão são consideradas os males do século XXI. Segundo dados do World Health Mental Survey, ligado à Organização Mundial da Saúde, 20% das pessoas que vivem em São Paulo convivem com ou tiveram algum transtorno ansioso nos últimos 12 meses (números de 2012). Analisando cidades de 24 países, São Paulo teve o índice mais elevado.
Não vou entrar aqui na razão desse aumento nos últimos anos, até porque cada um tem uma opinião diferente para isso, mas sim dividir a minha história e tentar ajudar quem passa por isso ou está próximo de alguém e não sabe o que fazer.
Vários motivos podem ser os gatilhos para a primeira crise: morte traumática na família, problemas profissionais, brigas graves, términos de relacionamentos e por aí vai. Depois da primeira, tudo o que remeter a essa lembrança e sensação pode ocasionar novas crises. Há cerca de três anos eu venho trabalhando esse problema. E não é fácil. É trabalho de um dia de cada vez, de recaídas e recuperações e dedicação consigo mesmo.
Algumas coisas eu posso dizer que não ajudam: se revoltar porque aquilo está acontecendo, ter pressa em ficar bem, culpar a si mesmo ou aos outros e, principalmente, se esconder do mundo e esperar que isso acabe por milagre. Essa última questão, além de não resolver, pode levar a outros problemas como a Síndrome do Pânico e a Depressão.
No começo eu não percebia que tinha essas crises. Simplesmente começava a chorar copiosamente, com um alto nível de estresse dizendo que não estava aguentando mais a pressão. Mas eu acreditava que era só um período difícil, um momento de fraqueza e deixava de lado. Isso me fez chegar a um começo de Síndrome do Pânico, levando à procura por uma psicóloga e depois ao antidepressivo. Mas eu só fui atrás dessa ajuda quando o nível de stress já estava me levando às sensações físicas que citei no começo do texto e ao bloqueio de relações pessoais e dificuldade no trabalho. No entanto, como sempre me incomodou muito me sentir mal, no mesmo dia procurei a terapia e consegui reduzir a entrada no pânico. O que não significa que o excesso de ansiedade passou. Eu tinha medo de ficar sozinha em casa (na época dividia apartamento com uma amiga em São Paulo), então passei a ir e voltar para a casa dos meus pais em Santos todos os dias, fiquei confusa com o que sentia pelo meu namorado da época, me afastando um pouco e conversando com ele só quando sentia que estava mais equilibrada, não queria sair de casa, parei de ter vontade de me cuidar como ir pra academia, arrumar o cabelo, a pele e as unhas, e cada momento de possível dificuldade me apavorava.
Ao longo desse tempo, fui aprendendo a me entender, entender o que causava isso e como lidar. Hoje, ainda tenho algumas crises em momentos específicos, mas elas duram menos e sei melhor como resolver. Voltei a me cuidar e minha vida entrou nos eixos novamente. Não me deixo bloquear e ficar em casa esperando que isso passe, enfrento e faço o que preciso ainda que a vontade seja me fechar no quarto e chorar. No entanto, não é de uma hora pra outra que isso vai passar. Mas a forma como você enxerga o problema, muda. Hoje, consigo enxergar melhor o que fiz de errado antes, durante e depois da crise e tento aprender e não repetir aquele comportamento. Mas, os gatilhos que geram as crises vão mudando e o seu comportamento frente a eles também precisa mudar. Assim é o aprendizado e o caminho da cura.
Estou longe de ser médica ou especialista no assunto, mas pela minha experiência posso dizer que algumas coisas sempre ajudam e tranquilizam:
1.Para o ansioso: Não se culpe quando as crises acontecerem. Lembre-se que isso é uma resposta do seu corpo a um comportamento mental. Você não agiu assim porque queria. Mas quando estiver mais calmo, analise o que causou o momento, entenda como isso abala você e busque uma solução. Para as pessoas próximas: Não culpe, critique ou brigue com quem está em crise. Não diga que é frescura, fingimento ou fraqueza. Cada um sabe o que está sentindo, não menospreze.
2. Para o ansioso: Se tem uma coisa que é essencial é RESPIRE. Lenta e profundamente, várias vezes. Quando estamos ansiosos e nervosos, nossa respiração fica mais curta e rápida e isso leva pouco oxigênio ao cérebro que entende que você está em um momento crítico e o corpo se prepara para a tensão. Respirar calmamente manda a mensagem de que está tudo bem e que o corpo pode se manter tranquilizado, acelerando o processo de equilíbrio. Para as pessoas próximas: No meu caso, a pior coisa é quando alguém me manda ficar calma. Porque eu sei que preciso ficar calma, mas naquele momento não consigo. Segure nas mãos da pessoa para que ela sinta que não está sozinha, respire devagar junto com ela, olhe nos olhos. Tente conversar e dizer que vai ficar tudo bem, que não há problema ficar daquele jeito e que logo passa.
3.Para o ansioso: Não se renda ao momento do pânico ou do medo. Quando começar a sentir que está entrando numa crise, se mexa. Mude de lugar, procure outra coisa para ocupar a cabeça (no meu caso, lavar a louça ou tomar banho ajuda), beba água, saia para uma caminhada. Só não se entregue ao bloqueio de ficar em casa sozinho esperando passar porque você começa a se sentir mal, aí você fica nervoso porque está se sentindo mal e começa a ficar pior e tudo vira uma bola de neve. Aprenda a viver o presente. Pensar no que pode dar errado em alguma coisa que ainda nem aconteceu, além de não ajudar, não vai resolver o problema. Para as pessoas próximas: Ajude o outro a mudar o foco, comece uma conversa sobre outro assunto tranquilo, faça-o dar risada, sugira um passeio, vão pra cozinha fazer um bolo. Qualquer coisa que corte o comportamento negativo.
4.Para o ansioso: Peça ajuda. Não é sinal de fraqueza ou desespero. Faz bem conversar com outra pessoa, dividir seus medos. Muitas vezes, botar pra fora o que está passando pela sua cabeça faz com que você racionalize melhor os problemas e encontre a solução mais fácil. Quem está de fora também pode ter uma visão diferenciada do que acontece e te ajudar. Fazer terapia é bem válido, em especial para as pessoas que têm dificuldade em se abrir. Falar com um psicólogo, evita que você receba julgamentos de amigos ou parentes e também que você acabe descontando suas frustrações em cima deles. Para as pessoas próximas: Quando disponível, dê colo para quem pede ajuda, seja compreensivo. Se não souber o que falar, somente um “Vai ficar tudo bem” já ajuda. Não julgue ou diga que é bobagem. Seja um ombro amigo.
5.Para o ansioso: Equilibre a mente. Várias coisas podem ser feitas para isso e cada um deve encontrar o que se encaixa, mas eu posso garantir que duas coisas funcionam para todos: meditação e exercício físico. “Ah, mas eu sou ansioso demais pra ficar sentado em silêncio tentando esvaziar a mente.” Blá! Eu também pensava assim e é uma grande bobagem. Pesquise sobre meditação e você vai perceber que existem centenas de técnicas, inclusive, meditação em movimento! (Sugiro pesquisar sobre Osho). Seja qual for a técnica certa pra você, eu garanto que ajuda. Você não precisa esvaziar a mente, isso só acontece com alguns abençoados de total equilíbrio e depois de muito tempo de prática. Simplesmente não se renda aos diálogos mentais. Toda vez que começar a pensar no que tem pra fazer no jantar ou em quanto trabalho ainda falta, traga o foco de novo para sua respiração ou para uma música. Com a prática isso fica bem mais fácil. E atividade física. Qualquer uma! Movimente-se. Uma caminhada no parque, no quarteirão, na praia, na garagem do prédio, corra se gostar, vá pra academia, dance. Ao se movimentar, você gera novos hormônios de felicidade e satisfação, movimenta sua energia interna, vê outras pessoas, e tudo isso faz com que a mente se acalme. De novo, experiência própria, funciona! Para as pessoas próximas: Mais uma vez, não menospreze. Não diga que meditação é coisa de hippie, bobagem e não serve pra nada. Existem inúmeras pesquisas científicas que já comprovaram os benefícios da meditação para o cérebro, estude. Encoraje a pessoa a fazer isso, a se cuidar.
6.Para o ansioso: Esse tópico é um pouco polêmico, então vou esclarecer desde o início, isso só vale se você acredita nisso e se sentir bem com o assunto. Me ajudou muito ter uma fé. Sou umbandista, mas qualquer fé é válida se te faz bem. Ajuda no momento de não se sentir sozinho e buscar uma força. Reze e peça ao que acredita. Para as pessoas próximas: Incentive – se a pessoa acreditar -, até sugira se achar que pode fazer bem, mas não pressione. Não insista que só o seu pastor ou pai de santo vai resolver o problema, que só Jesus salva e outros exageros. Cada coisa a seu tempo.
7.Para o ansioso: Não desista. Seja porque acha que os resultados estão demorando ou porque acha que já está bem. Eu já caí nesse erro e me arrependi quando percebi. As melhoras vão surgindo, mas é um processo. Cada novo problema é uma nova forma de trabalhar seu interior. Provavelmente você fará tudo isso (meditação, exercícios físicos, respiração, diálogo) pro resto da vida. E isso não é um problema. Se te faz bem, continue. Para as pessoas próximas: Incentive que a pessoa continue a fazer o que está ajudando. Relembre o quanto ela melhorou, destaque as diferenças de comportamento, porque muitas vezes nós não somos capazes de enxergar o quanto evoluímos, somente o que ainda não alcançamos. Seja uma alavanca, não uma âncora.
8.Para todos: Tudo passa quando você está disposto e esforçado a resolver. Não é porque você tem essas crises agora, que vai tê-las para o resto da vida e pelos mesmos motivos. Não deixe que ninguém diga que é bobagem ou que você está ficando louco. Acredite em si mesmo. Lembre-se sempre da frase da imagem que ilustra o post: Depressão é excesso de passado, ansiedade é excesso de futuro. Viva o presente!